quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DARCI RIBEIRO

O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. No filme o Povo Brasileiro, Darcy ribeiro responde à questão "quem são os brasileiros?", investigando a formação do nosso povo, a série conta com a participação de Chico Buarque, Tom Zé, Antônio Cândido, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil, Hermano Vianna, entre outras personalidades.

O filme O Povo Brasileiro é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro, e discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro e depoimentos, o filme é um programa indispensável para educadores, estudantes e todos os interessados em conhecer um pouco mais sobre o nosso país.

O Povo Brasileiro

A reflexão sobre a nossa formação nos remete às nossas origens, à história que como brasileiros, fomos construindo. A realidade na qual nos encontramos traz reflexões e pontos de vista provenientes de outros contextos.
No que tange esse desafio de nos tornar “explicáveis” Darcy Ribeiro indica um conjunto teórico a partir do nosso contexto histórico. Ribeiro reúne um conjunto de pesquisas que culminam em uma teoria do Brasil até então inédita. Subjacente à descrição desta teoria, está sua preocupação em entender por que caminhos passamos, que nos levaram a diferenças sociais tão profundas no processo de formação nacional.
A urbanização contribuiu para uniformizar os brasileiros, sem eliminar suas diferenças. Fala-se em todo o país uma mesma língua, um mesmo idioma só diferenciado por sotaques e gírias regionais. Mais do que uma junção de etnias formando uma etnia única, a brasileira, o Brasil é um povo nação, ajustado em um território próprio para nele viver seu destino.
Foi essa gente composta de índios, alma de índios, de negros, de mulatos, que fundou esse país. Ao longo da costa brasileira se encontraram duas visões de mundo completamente opostas: a “selvageria” e a “civilização”. Concepções diferentes de mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram. Para os europeus os indígenas pareciam belos seres inocentes, que não tinham noção de "pecado", porém com um grande defeito: eram "vadios", preguiçosos não produziam nada que pudesse ter valor comercial. Serviam apenas para ser vendidos como escravos. Darcy Ribeiro começa a descrever como foi acontecendo a “gestação do Brasil” e dos brasileiros como um povo. Nessa reconstituição ele fala da união ocorrida entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do brasileiro.
Um povo novo que, no dizer de Darcy, se enfrentam e se fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Para ele, essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.Darcy Ribeiro concebeu a história brasileira dividida em cinco formadores regionais, a cultura crioula, cabocla, gaúcha, caipira e a cultura sertaneja. Divididas em territórios específicos, a cultura crioula, desenvolveu-se no litoral nordestino; a caipiras, que se formou nas áreas ocupadas pelos mamelucos paulistas; a sertaneja, desenvolvida na área que se desdobra desde o Nordeste até os cerrados do Centro-Oeste; a cabocla, que correspondente à população amazônica e a gaúchas, formada no sul do país.
Para Darcy formamos a maior presença neolatina no mundo, uma "nova Roma". Segundo ele, melhor, porque racialmente lavada em sangue índio e em sangue negro. Esta nossa singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos e desafiados a construir uma sociedade inspirada na propensão indígena para o convívio cordial e para a reciprocidade e a alegria saudável do negro extremamente alterativo.
Ao contrário do modelo constituído pelas tribos indígenas no Brasil, os portugueses invasores possuíam relações sociais baseadas na estratificação das classes, tinham uma velha experiência como civilização urbana. Com eles veio a Igreja católica que exerceu uma grande influência no processo de formação sócio-cultural do povo brasileiro.
No processo de formação sociocultural do Brasil ele vê a organização do que ele chama de empresas. Darcy diz que essas empresas, cada uma com seus fins particulares,atuaram para garantir o êxito do empreendimento colonial português no Brasil.Darcy organizou um quadro da questão agrária brasileira, onde comenta as dimensões espantosas dos latifúndios, a questão do monopólio da terra e a monocultura. Relacionou o temível êxodo rural com o inchaço das cidades em conseqüência causando a miséria da população urbana. Para Darcy formou-se um modelo político-econômico que estratifica a população brasileira, a característica distintiva do racismo brasileiro é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas como por exemplo no Estados unidos, mas sobre a cor de sua pele. Para ele, a possibilidade de existência de uma democracia racial está vinculada com a prática de uma democracia social, onde negros e brancos partilhem das mesmas oportunidades sem qualquer forma de desigualdade, avalia o processo de estruturação como uma configuração diferente de quantas haja, segundo ele só explicável em termos, históricos.O país cresceu e se desenvolveu a partir de uma economia de base agrícola, voltada para abastecer o mercado europeu. O Brasil só se tornou uma nação de fato com a abolição da escravatura, que concedeu aos negros, ao menos no papel, a igualdade civil. Acredito que nada melhor para sintetizar a formação deste povo e concluir este resumo do que esta afirmativa do autor:
“Composta como uma constelação de áreas culturais, a configuração histórico-cultural brasileira conforma uma cultura nacional com alto grau de homogeneidade. Em cada uma delas, milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua brasilidade. Constituem, essencialmente, partes integrantes de uma sociedade maior, dentro da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo diverso do que o fariam em relação a estrangeiros. Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições étnicas conflitivas”.

Resenha retirada do site pt.shvoong.com